O parto da primeira primeira filha, a Olívia, demorou cerca de 9 horas. Passei toda a fase latente e ativa no hospital devido à indução, e foram horas longas demais com dores a cada poucos minutos. A dor era tamanha que vomitei, não consegui comer e cogitei desistir no final. A ajuda do meu marido e da minha doula no momento foram essenciais; foram eles que me deram força e coragem pra continuar.
Quando descobri que estava grávida de novo, eu só clamava uma coisa: que eu pudesse passar todo o trabalho de parto em casa. O fato de estar em ambiente hospitalar cansa demais, e eu imaginava que poder estar em casa nesse momento daria um alívio em meio a tanta dor. Deus ouviu e atendeu meu pedido.
Na tarde do dia 04, eu terminei a mala de maternidade e mandei uma mensagem para meu marido dizendo: “sinto que está chegando a hora”. Olhando em retrospecto, tudo aconteceu de forma perfeita.
O início do trabalho de parto
As contrações começaram naquela madrugada, de 04 para 05/10/2023, mas ainda não estavam ritmadas, nem fortes. Lembro de ter acordado várias vezes durante a noite, mas naquele momento, eu achava que eram apenas contrações de treinamento, como tive durante os últimos meses da gestação – e às vezes elas vinham bem fortes, inclusive.
Quando acordei naquela manhã, continuava sentindo as contrações, mas segui o dia normalmente. Cuidei da Olívia durante a manhã seguindo nossa rotina normal; separei as lembrancinhas da Maitê e organizei o almoço. Às 9h senti aquele formigamento irradiando nas costas, e eu me lembro BEM daquela dor. Ao mandar mensagem para a minha doula e para a obstetra ao meio dia, elas me pediram para aguardar e mantê-las informadas. Provavelmente eu estaria em pródromos – e esse período pode tanto demorar como ser rápido, nunca se sabe.
Depois do almoço e da Olívia ter ido pra escola, terminei a mala de maternidade, me deitei na cama para descansar um pouco e fui trabalhar lá pelas 14h. O trabalho fica a uma quadra de onde moro, mas tive que parar no meio do caminho por conta de uma contração. Consegui trabalhar pouco, mas fiquei até as 17:20. Eu estava com muita dor, mas ainda dava pra suportar, por isso achei que o trabalho de parto iria se arrastar noite adentro.
Às 18:08 eu fiz uma foto da barriga no espelho. Mais ou menos às 18:30 a Olívia chegou da escola. Dei a janta pra ela, e meus pais chegaram na sequência pra visitar a neta. Quando vi meus pais, meu emocional não aguentou e eu desabei a chorar. De dor, de medo, de emoção… não sei, tudo junto. Acho que até então eu estava segurando, mas ver eles ali… me pegou desprevenida.
A evolução das contrações
Às 19:30 a dor começou a irradiar para as pernas e a intensificar ainda mais. Nesse momento eu achei que o trabalho de parto estava evoluindo. Resolvi tomar um banho pra ver se as contrações acalmavam (sinal de que iria demorar ainda), mas pelo contrário, elas começaram a ficar ainda mais fortes. Demorei 15 minutos no chuveiro, pois tive que parar várias vezes – e porque a água quente nas costas alivia as dores.
Depois do banho, às 20:30, eu deitei na cama para descansar e tentar respirar. As contrações estavam durando mais de 1 minuto, com espaçamento de 4 minutos cada. Estava ritmada. Nesse momento eu já não sabia o que fazer com tanta dor. Eu achei que não ia aguentar e até pensei em acabar logo e ir pra cesárea, mas é algo que me amedronta demais. Minha mãe estava comigo no quarto, e a Olívia também veio me ver. Me cortou o coração não conseguir dar atenção pra ela como eu gostaria.
Nessa hora, como nas dores estavam insuportáveis, eu sabia que estava evoluindo o trabalho de parto, mas ainda nem passava pela minha cabeça que pudesse acontecer tão rápido como foi. Eu pensei que ainda iria noite adentro. Nesse momento, meu pai foi buscar a minha sogra pra ficar com a Olívia, e minha doula veio pra minha casa.
Às 21:00 as contrações aceleraram MUITO. Acho que foi ali que eu entrei na partolândia e estava achando MESMO que não ia aguentar. Até que eu senti uma água descendo. Não foi muita, mas era algo diferente. A bolsa estourou. Quando eu achei que não podia piorar, a coisa piorou. As contrações começaram a ficar com menos de 1 minuto de intervalo entre uma e outra. Não dava tempo nem pra respirar. Ali, resolvemos que era hora de ir para o hospital.
A viagem de carro
Foi um caos. O Doug terminando a mala, eu quase morrendo de dor, a doula tentando falar com a obstetra, mas não dava tempo porque as contrações não davam trégua. E ao sair, quando vi a Olívia na porta, fiquei com um nó na garganta. Queria pegar ela no colo, queria levar junto. Eu estava dividida, fragmentada em mil pedaços. Queria ficar com ela, mas precisava ir – na pressa, sem se despedir direito.
Eu já não via e não acompanhava mais nada direito. Ter que ficar de pé ali no elevador foi sofrido. Estava com meu marido, minha doula e meu pai. Por indicação dele, a doula foi junto com a gente no carro. Foi o que pode ter salvo a vida da Maitê.
Ao entrar no assento traseiro do carro, com a doula ao meu lado, eu me agarrei no banco da frente com força e fiquei ali aguentando as dores. Nem me mexia. Só gritava – é involuntário. Até que minha doula lembrou que eu tinha contratado as fotos do parto, e ligou pra avisar que estávamos a caminho e eu já estava no expulsivo. Nisso, eu disse pra ela que não estava ainda com vontade de empurrar.
Foi eu terminar a frase que a próxima contração veio com tudo, junto com uma vontade insana de empurrar. Agora eu sabia como era essa sensação! E não tinha como segurar.
Entrei em desespero! Tirei as calças e deitei como deu ali no banco de trás. Ao fazer o toque, a doula identificou que a cabeça já estava coroando. Ou seja: a bebê já estava saindo! A doula estava com a obstetra ao telefone, aprendendo como fazer um parto e eu fiquei com MUITO MEDO. Comecei a clamar a Jesus como nunca fiz antes. Lembro que rezei, pois não sabia mais o que poderia fazer. Confiei que Ele faria a coisa certa.
Como eu me deitei, a Maitê voltou a subir um pouco. Aproveitei esse momento, e naquela posição desconfortável, eu me concentrei MUITO pra tentar não empurrar. Quando vinha a vontade, que era em espaços de segundos, eu me concentrava ao máximo pra fazer pouca ou nenhuma força. Algumas contrações eu fiz força, outras não. Algumas vezes pensei em realmente parir ali no carro, mas noutras vezes tinha medo e segurava.
Chegada ao hospital
Não sei quanto tempo fiquei ali, não vi a estrada, não vi nada. Só lembro quando estávamos fazendo a curva para o hospital, e um alívio enorme tomou conta de mim. Meu marido estacionou de qualquer jeito na frente do hospital e correu para a porta de entrada chamar alguém. Vi vagamente uma pessoa chegando com uma cadeira de rodas, e eu tentei me deitar nela, do jeito que deu. Lembro de entrar berrando no hospital. Não vi a recepção, não vi o elevador, não tenho muitas lembranças dessa hora. Eu só queria MUITO um quarto pra parir!
Não lembro de ter entrado no quarto, só de ter visto a cama, e desesperadamente queria deitar. Ninguém da equipe do hospital me ajudou a tirar a roupa. Tive que pedir para me ajudarem e ainda foram frios, ficavam fazendo perguntas, sendo que nessa hora eu mal sabia meu nome. A doula entrou comigo, enquanto meu marido teve que fazer minha internação às pressas. Subi na cama em um pulo e comecei a fazer o que meu corpo mandava.
Nessa hora, os acontecimentos foram mais ou menos assim:
- 21:48 – meu marido estava subindo no elevador após ter feito minha internação.
- Alguém pediu se “podiam deixar o pai entrar”. Só me lembro que não consegui responder, mas pensei: ele vai dar um jeito de chegar.
- 21:54 – meu marido chegou no quarto e fez a primeira foto, com a cabecinha já começando a aparecer.
- 21:57 – Maitê nasceu, eu pude pega-la no colo logo por alguns segundos.
O nascimento
O papai chegou em tempo, e eu consegui ver ela nascendo, que era o que eu sempre quis. Hoje não lembro muito bem da visão, porque eu devia estar cheia de adrenalina, medo, emoção… Mas o que me deixa super feliz, realizada e com o coração tranquilo é que esse parto não teve qualquer tipo de intervenção. Foi 100% natural, passado em casa, com as pessoas que amo, e chegamos ao hospital na hora certa para vê-la nascer.
Maitê nasceu com mecônio, duas circulares de cordão e Apgar de primeiro minuto baixinho, por isso não ficou mais do que alguns segundos no meu colo e teve que ser atendida com urgência pelos pediatras da UTI neonatal (o fato de ter sido parto ao invés de cesárea não mudaria em nada esse quadro). Hoje está bem, graças a Deus, mas só penso que, se tivesse nascido no carro, talvez essa história tivesse outro desfecho. Mas Deus é bom. Nossa menina teve uma ótima recuperação e recebeu alta em 3 dias. Mas isso é assunto pra outro post.
Jessica M.
Que apreensão o seu relato, Gabi.
Graças a Deus, tudo deu certo no final. Quando as coisas tem que ser, mesmo as complicações parecem receber uma ajuda invisível e divina.
Desejo muito amor e felicidade para sua família nessa nova fase!
Beijos :*
Gabi
Difícil é não acreditar na existência de um “algo superior” quando acontece esse tipo de coisa. Eu mudei a minha fé depois da maternidade.
Muito obrigada pelo carinho!
Beijos.
Renata Carvalho
Que post intenso, fui ficando apreensiva a cada linha que lia! Gabi do céu, quanta coisa vc passou, o nascimento foi “com emoção”, ahhaha, mas que bom que deu tudo certo e hoje você e a Maitê estão bem. Que ela tenha muita saúde e meus parabéns pela nova baby, agora é curtir os momentos maravilhosos com ela! ♥
Beijos,
Livro de Memórias
Gabi
Se não for com emoção, eu nem vou, hahaha!
Muito obrigada pelo carinho ♥
Marília Soares
Me emocionei demais lendo esse relato… Felicidade e muita saúde para a Maitê!
Gabi
Muito obrigada, Marília! ♥