Desde que pensei em ter filhos, meu desejo era o parto normal. Nunca cogitei uma cesárea, a não ser que fosse necessário, no caso de algum perigo para o bebê ou para mim. Fora isso, tinha decidido que queria viver a experiência do parto.
Então, quando descobri a gravidez, comuniquei minha obstetra sobre minha decisão e procurei especialistas em parto normal. Durante toda a gestação, adquiri conhecimento sobre todos os procedimentos que poderiam ser feitos em mim, elaborei plano de parto e fiz fisioterapia pélvica para auxiliar o encaixe da Olívia e fortalecer músculos e articulações.
Contratei doula para o dia do nascimento, mas resolvi confiar no serviço de saúde privado ao não contratar equipe de obstetrícia. Ou seja, no dia do parto, eu seria atendida pelo médico de plantão. A ideia era permanecer em casa durante o trabalho de parto, com a assistência da doula, e ir ao hospital apenas no momento do expulsivo – quando faltaria pouco para a Olívia nascer.
Porém, nem tudo sai conforme a gente planeja…
Na tarde do dia 09 de fevereiro, senti um corrimento líquido juntamente com uma substância gelatinosa, que identifiquei como sendo o tampão mucoso. Era um bom sinal, significava que meu corpo estava se preparando para o trabalho de parto. Porém, aquele líquido continuava estranho. Ouvi dizer que líquido de bolsa tem cheiro de água sanitária, e que escorre pelas pernas em grande quantidade. Não identifiquei nenhuma das coisas, por isso, resolvi aguardar a minha consulta do dia seguinte para tirar a dúvida.
Quando minha médica me examinou, ela disse: “Vou te mandar ao hospital para fazer um teste de bolsa rota. Se for rompimento da bolsa, tu vai ter que fazer o parto hoje mesmo”.
Eu não sei explicar como eu me senti naquele momento. Olívia estava programada para nascer no final de fevereiro, e eu ainda não estava preparada psicologicamente pro nascimento. Eu ainda tinha muita coisa agendada, e isso melava todos os planos! Mas como eu disse, nem tudo sai conforme o planejado. Afinal, no parto normal a bebê escolhe quando quer nascer!
Chegada no hospital
Já no hospital – e com todas as malas da maternidade no carro – a médica plantonista atestou que era bolsa rota. Por já estar há 24 horas nessa situação, a bebê poderia correr riscos, e por isso, segundo ela, eu teria que fazer uma cesárea.
Tudo o que eu tinha planejado estava indo por água abaixo! Tantas horas de fisioterapia, tantos exercícios feitos em casa, tantas conversas com minha bebê pra ela ficar na posição certinha do parto! Tudo isso e agora… cesárea? Voltei a falar com minha obstetra, na esperança de conseguir outra opinião, mas ela confirmou a informação da médica plantonista.
Nessa hora, vendo meu desespero, a plantonista disse: “Se tu quer tanto o parto normal, podemos colocar ocitocina na veia pra ti ter a experiência”. Eu, que já não estava mais pensando direito, acabei aceitando.
Assim que me colocaram no quarto (meu marido teve que permanecer na recepção do hospital devido aos protocolos de Covid), liguei para minha doula, que nos colocou em contato com uma obstetra particular. Ela nos orientou a respeito do tempo de bolsa rota, e sua relação com o parto normal.
Acontece que, nos protocolos de obstetrícia, casos de bolsa rompida teriam que ser operados em algumas horas, para evitar riscos para a saúde do bebê. Mas essa obstetra particular, quando atendia suas pacientes na mesma situação, aguardava até 48h para que a mulher entrasse em trabalho de parto espontâneo. Além disso, eu havia feito exames de sangue para detectar qualquer doença que pudesse acarretar problemas à bebê, e não tinha acusado nada.
Ou seja, existia outra forma de tratar o meu caso, mas tanto minha médica quanto os dois plantonistas que me atenderam (o segundo que, inclusive, foi desrespeitoso) só me deram a cesárea como opção. Seria uma questão de dar outro medicamento intravenoso que iria provocar a dilatação e, como consequência, as contrações viriam naturalmente. A ocitocina, indicada pela plantonista, iria provocar contrações fortíssimas e não iria fazer a dilatação. Logo, eu seria novamente direcionada à cesárea por outro motivo bem comum: não tinha dilatação.
A obstetra particular foi me ver no hospital naquela noite, e aceitou fazer o meu parto normal na manhã seguinte.
O nascimento
No dia 11 de fevereiro, a obstetra chegou no horário que combinamos, e me acompanhou durante as quase 9h de trabalho de parto, de forma carinhosa, atenciosa e humana. Minha doula chegou mais tarde, e meu marido pôde entrar comigo na sala de parto.
Sobre viver a experiência do parto normal
É intenso, chega um momento que eu não sabia o meu nome e, para mim, o expulsivo foi ainda mais cansativo e desafiador. Admito: gritei muito e achei que não ia conseguir, que não ia aguentar. A cada contração eu pensava na analgesia, mas fui firme e pensei: “vou aguentar mais uma”.
Sei que vão perguntar: “faria de novo o parto normal?”. Na hora, eu iria pensar duas vezes para responder, afinal, dói! Porém, algumas horas depois, eu já diria que sim, faria tudo de novo.
O parto normal e humanizado é lindo, é a forma mais pura de trazer outro ser humano ao mundo. Durante o parto, eu minha bebê estávamos em sintonia, realizando um lindo trabalho juntas, e meu corpo sabia o que fazer. Mesmo sofrendo horrores, sabendo que poderia estar plena e maquiada numa cesárea, eu repetiria tudo de novo, da mesma forma.
Conclusões
Apesar de pagarmos tão caro pelo plano de saúde, ainda assim alguns plantonistas acabam indicando procedimentos que não são realmente necessários, de modo a ser mais rápido. Afinal, ocupei a sala de parto normal por um dia inteiro, ao contrário da cesária, que seria realizada em poucas horas. Só consegui o parto normal que desejava porque estava munida de informações e não aceitei a opinião dos obstetras sem questionar.
Que fique claro: apesar de ser a favor do parto normal, eu não sou contra a cesárea e acredito que cada mulher tem o direito de escolher sua via de parto de acordo com o que se sinta mais confortável. Até porque, se fosse realmente necessário, eu faria a cesárea se o parto apresentasse risco à bebê. Mas o meu caso poderia ter sido mais um dentre tantos que vemos por aí, em que o médico recomenda a cesárea por conveniência própria, e não leva em conta o desejo da mulher.
Se você, leitora, deseja o parto normal, essas são as minhas dicas: tenha informações (muitas, o máximo que puder!), uma pessoa de confiança que saiba te orientar em relação aos procedimentos (como uma doula) e, se possível, contrate um obstetra que tenha preferência pelo parto normal, não somente que saiba do seu desejo.
Apesar de ser bem intenso e cansativo, o parto normal humanizado vale a pena. É importante não criar medo, pois cada contração é uma etapa mais próxima de conhecer o maior amor da sua vida. Dessa forma, tudo parece melhor.
Luiza Lima Grilli
Meu Deus, Gabi! Quanto tempo…
Lembro que lia seus posts em 2013, e agora voltei porque percebi que tinha seu site ainda nas abas de salvos aqui no Google! E que mudança, que salto sua vida deu! E que linda a Olívia! Nome lindo inclusive…
Que relato potente, sensível e sincero! Informação sempre é o poder, e que bom que com você, a coisa virou e saiu da melhor forma possível. Com certeza essa conexão entre o mundo de dentro e o de fora não seria perfeito, mas que felizmente, teve um final feliz!
Fico feliz pela família linda! Felicidades!
Gabi Orlandin
Oi, Luiza!
Quanto tempo mesmo! Que bom reencontrar o pessoal da “antiga blogosfera”!
Mudei tudo na vida, hehe! E mesmo agora, analisando como tudo aconteceu, eu teria feito várias coisas diferente. Mas estou feliz que deu tudo certo. Quando não se tem a experiência, o conhecimento vale ouro!
Muito obrigada pelo carinho de voltar aqui e deixar um recado 🙂