Quando comecei a ler Tartarugas até lá embaixo, eu já tinha conhecimento de que John Green sofria de algum tipo de Transtorno Obsessivo Compulsivo – ou simplesmente TOC, como este transtorno é mais popularmente conhecido. Porém, eu mesma não sabia muito sobre essa doença, e tampouco sabia qual tipo de TOC afligia o autor.
Então, quando finalizei a leitura do livro, fiz algumas pesquisas para buscar por maiores informações, e cheguei a um vídeo do próprio John Green, no qual ele fala ao Hank (seu irmão e parceiro no canal Vlogblothers) e claro, ao público, sobre a sua doença e de que forma ela se pronuncia.
John Green e sua personagem, Aza Holmes, sofrem com essa mesma espiral de pensamentos incontroláveis. Eles começam do nada, e de repente bum, não é possível pensar em mais nada, somente naquele espiral de pensamentos intrusivos. Porém, enquanto o transtorno de Aza é relacionado a fluidos corporais e parasitas, como micróbios e bactérias, John tem sua obsessão voltada para alimentos envenenados, como ele mesmo fala no vídeo acima:
“Do nada eu cismo que minha comida está contaminada ou envenenada e, quando me dou conta, não consigo pensar em nada além disso. Ou estou pensando nisso, ou estou tentando parar de pensar nisso. O tempo todo”.
O problema mental de John Green não é algo que possa ser colocado em palavras, pois não é tangível, não é visível, e então não é fácil de ser entendido pelas pessoas que não passam por isso. E, como forma de tentar explicar a sensação, ele resolveu escrever Tartarugas até lá embaixo.
John deixa claro neste vídeo que a história de Aza Holmes é totalmente fictícia, porém o TOC da personagem é inspirado por seu próprio transtorno. O autor gostaria de explicar o que sente quando têm as crises, e fez isso na forma de metáforas em seu livro – pois como ele diz, essa é a única maneira possível de se explicar essa coisa não sensorial. Uma das metáforas mais interessantes, a meu ver, é a espiral de pensamentos, que ele também cita muito neste e em outros vídeos, e que explica o turbilhão de pensamentos que assaltam a mente da pessoa que sofre dessa doença.
“A questão da espiral é que, se a seguimos, ela nunca termina. Só vai se afunilando, infinitamente.”
Trecho do livro Tartarugas até lá embaixo.
Então… qual é o significado do nome do livro?
O título deste livro me deixou muito confusa da primeira que o li, mas quando soube do real significado, fiquei maravilhada. Vocês já viram a capa, e já viram que ela tem um redemoinho desenhado na cor laranja, correto? Correto! Pois bem, esse desenho nada mais é do que as espirais de pensamento de Aza Holmes, e isso fica muito claro logo no comecinho do livro, quando a personagem descreve seus pensamentos invasores.
E as tartarugas? Como ficam? As tartarugas são explicadas lá no finalzinho do livro, quando a protagonista e sua amiga Daisy conversam sobre o transtorno de Aza. Aza fala a Daisy que se sente como as bonecas matrioskas russas: você tira, tira, tira, e sempre tem outra bonequinha, uma dentro da outra. Aza sente que seu eu verdadeiro está trancado lá dentro, e ao contrário das matrioskas, ela não tem uma bonequinha sólida dentro dela – são todas ocas, nunca termina. Já deu pra ter uma ideia geral, não é?
Dito isso, Daisy lembra-se de uma história que sua mãe costumava lhe contar. Não vou transcrever todo o trecho aqui, mas resumidamente é mais ou menos assim: um cientista estava dando uma palestra sobre a origem do universo, sobre a evolução da espécie e coisas do tipo. Quando termina, ele pede à plateia se alguém tem dúvidas.
Eis que uma senhorinha no fundo ergue o braço e diz, com todo respeito: “Isso tudo é muito bonito, senhor cientista, mas a verdade é que a Terra é uma superfície plana em cima do casco de uma tartaruga gigante!”. O cientista achou graça e respondeu: “Ora, mas se é assim, a tartaruga gigante está em cima do quê?”. E a mulher diz: “Ela está em cima do casco de outra tartaruga gigante!”. E o cientista volta a pedir: “Ora, e essa tartaruga está em cima do quê?”. Então a senhora enfim respondeu: “O senhor não está entendendo. São tartarugas até lá embaixo.“.
Quando Aza Holmes ouve essa história e encaixa-a em sua própria vida, as coisas começam a fazer um pouco mais de sentido. Afinal de contas, tudo não passa de tartarugas até lá embaixo, uma em cima da outra. Mais ou menos como as matrioskas. Não é incrível??? John Green nunca para de impressionar!
Fato é que as pessoas (não generalizando), não sabem de verdade sobre o que trata essa doença (e eu me incluo nesse grupo, mas com o verbo agora ligeiramente no passado!). Já vi e li alguns livros que citam o TOC como uma simples mania de lavar as mãos, mas é muito mais que isso: vem acompanhado de uma chuva de pensamentos que fazem com que a pessoa invadida não possa resistir. A pessoa sabe que aquele pensamento é irracional e não faz sentido, mas é completamente impossível resistir a ele.
Tartarugas até lá embaixo já me pareceu impressionante enquanto eu lia, mas isso aumentou de tamanho depois de saber de tudo isso. Pra mim, é simplesmente brilhante que John Green tenha conseguido transmitir o poder deste transtorno com a seriedade que merece, sem deixar a sua personalidade autêntica, inteligente e até engraçada de lado – características que nós, fãs, tanto amamos em seus livros.
Quanto mais eu penso, mais eu acho que Tartarugas até lá embaixo é o meu livro preferido do autor!
Manuela Furtado de Almeida
Interessante! Muito bom quando um livro nos desperta para algo além dele mesmo.
Jenifer
Só que eu tô super curiosa pra ler esse?
Ana
Incrível! Eu não fazia ideia dessa relação do John Green com o TOC
Lais Cristina
É uma experiência incrível quando o livro vai além de uma história. Nesse caso é uma realidade, e é bom saber que autores procuram trabalhar e desenvolver esse lado, transparecendo tais angústias certo!? Hahaha
Lally Lima
Amo livros assim. Te faz ver além dele. Não vejo a hora de ler !!
RUDYNALVA CORREIA SOARES
Gabi!
É um transtorno bem sério para quem tem, porque dificulta a vida em vários aspectos.
Gostei das explicações sobre o título do livro.
Desejo um final de semana carregadinho de luz e paz!
“ Inteligência não é não cometer erros, mas saber resolvê-los rapidamente.” (Bertolt Brecht)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
Elisama Lucena
Nossa… ele definiu bem o que é essa doença.
Fazem 10 anos que sofro com TOC e não é nada fácil.
Eu o odeio com tudo o que tenho.
Graças a Deus eu estou em controle, fazendo terapia e tomando medicamentos, mas tem horas… só Jesus.
Espero que esse livro ajude as pessoas a entenderem e a respeitarem quem sofre com isso.
Ainda tem muito preconceito.
bjs!
Gabi Orlandin
Nossa, Eli! Acho que é difícil de entender, estando de fora. Só quem passa por isso sabe bem como é.
Realmente tem muito preconceito… as pessoas falam que é só aquela mania de higienização, como se achassem graça. Espero que esse livro ajude mesmo! 🙂
Beijo.
Suâny
Tô ansiosa pra ler, me aprofundar mais no assunto e ter uma opinião formada fortemente ?
Elis Ramos
Toc e paz… é possível ter ambos? Complicado!
Sueli Cobbos
Muito bom saber que além do enredo do livro há ainda uma forma de conhecermos mais sobre o TOC e saber que o problema vai muito além de uma simples higienização.
Adriana C. Sousa
Esse é um assunto que me interessa bastante, a pessoa que tem TOC sofre muito, é uma doença séria, que precisa de entendimento para ser tratada! É um livro que despertou o meu interesse.
Milena Soares
Que legal, também fiquei sem entender o porque desse título, muito interessante essa história, TOC é um tema que muito me interessa e acho que é muito pouco comentado.
Larissa Émile
Eu sou apaixonada por esse livro, e ler seu blog me deixou ainda mais encantada. Obrigada 😉
Shayanne
Achei incrível! Não fazia ideia dessa relação de Green com a personagem Aza. E além de tudo, é um livro que desperta reflexões.